HISTÓRIA BREVE (neurociência e hipnose científica)

Atuais estudos sobre o cérebro, nas ultimas décadas, é que ele definitivamente não é um órgão estático, que nasce “pronto” e pouco se molda às demandas do meio ambiente. Tem se revelado, na realidade, um complexo emaranhado de circuitos plásticos, extremamente adaptáveis e responsivos – células do cérebro podem se reorganizar e criar novas conexões. A neuroplasticidade, é um dos motivos que tornam o estudo do cérebro instigante: o sistema nervoso é capaz de se alterar estruturalmente e funcionalmente em resposta aos estímulos externos (âncoras, gatilhos etc.). Vários grupos de pesquisa no mundo partem dessa ideia para estudar, por exemplo, novas estratégias de reabilitação depois de lesões graves no sistema nervoso central, e muitos deles se utilizam da hipnose.

Outro estudo, comprovado, e revolucionário é a NEUROGÊNESE, ao contrário do que pensava há não pouco tempo, neurônios são formados desde a vida intrauterina até velhice, num processo de renovação contínua. Fundamentais descobertas são recentes (10 anos aproximadamente), é de esperar a revelação de mais dados para os próximos anos ou meses. Na fase adulta os neurônios continuam a nascer, contudo, em duas regiões do cérebro, quais sejam: 1 – a zona subventricular (ZSV) localizada nas paredes dos ventrículos laterais, onde as novas células migram para o bulbo olfactório através do fluxo migratório rostral; 2 – a zona subgranular (ZSG), parte do giro dentado do hipocampo. Vale lembrar que muitas destas células morrem pouco depois de nascerem, mas algumas integra-se funcionalmente no tecido à volta do cérebro. Vou além, apenas na década de 1990, com o isolamento de células-tronco neuronais multipotentes do cérebro de camundongos adultos e com a demonstração de células em divisão na Zona Subventricular com capacidade migratória e de se tornarem neurônios, é que a ideia da neurogênese adulta em mamíferos foi amplamente aceita. Destarte, já no cérebro humano, somente nos anos 2000 é que vem sendo estudado e evidenciado que a neurogênese ainda ocorre na fase adulta, mesmo em sujeitos idosos, entretanto, as interações, funções e organização dessas células ainda continuam incertas. Agora está estabelecido que a neurogênese continua durante a fase adulta em pelo menos duas áreas do cérebro de mamífero, já inicialmente citados. A neurociência é uma área em permanente atualização e de questionamento dos dogmas do que já foi estudado até hoje sobre o cérebro humano.

Alguns outros estudos recentes, sobre a hipnose e neurociência, usando imagens mentais do cérebro apontam para mecanismos ‘de cima para baixo’ similares sob a influência da sugestão. Pessoas altamente hipnotizáveis foram capazes de “drenar” as cores de um colorido desenho abstrato ou “acrescentar” cores ao mesmo desenho reproduzido em tons de cinza. Em cada caso, as partes de seus cérebros envolvidas na percepção das cores foram ativadas de maneira diferente. Imagens do cérebro revelam que os mecanismos de controle que decidem o que se fazer quando estamos diante de um conflito, permanecem desativados quando as pessoas estão hipnotizadas. Processos ‘de cima para baixo’ neutralizam as informações sensoriais (ou ‘de baixo para cima’), disse o Dr. Stephen M. Kosslyn, um neurocientista da Universidade de Harvard. As pessoas acham que o que se vê, os sons e o toque do mundo externo constitui a realidade. Mas o cérebro constrói o que percebe baseado em experiências anteriores, afirma o Dr. Kosslyn. Na maior parte do tempo as informações ‘de baixo para cima’ são compatíveis com a expectativa ‘de cima para baixo’, disse o Dr. Spiegel. Mas a hipnose é interessante por que cria uma divergência. “Imaginamos algo diferente, então é diferente,” disse.

Existe, hoje, uma compreensão da natureza cíclica ou oscilante da comunicação e cura mente/corpo. Muitas moléculas mensageiras do sistema nervoso autónomo, tais como a adrenalina, codificam a memória, a aprendizagem e o comportamento. Em pesquisas recentes, ficou mesmo demostrado que, por exemplo, o humor e as emoções podem ser os responsáveis pela amnésia e por sintomas psicossomáticos associados a traumáticas experiências de vida (Rossi, 2001:31). Erickson (Rossi, 2001:66, em concreto, demonstrou que amnésias geradas por choques psicológicos e eventos traumáticos eram, na verdade, dissociações psiconeurofisiológicas, passíveis de serem resolvidas por “ressíntese interior”, em hipnoterapia. É precisamente este tipo de duplo vínculo psicobilógico, em que choque e stress fortemente codificam os eventos traumáticos e, simultaneamente, enfraquecem o efeito competição, que leva à génese de muitas das disfunções mente/corpo, ou seja, dos chamados problemas psicossomáticos. Selye, com base na perspectiva fisiológica, e Erickson, a partir da perspectiva psicológica, uma breve comparação. Hipnose tem como método fundamental o estreitamento dos estímulos sensoriais e da atenção (Vaitl et al., 2005) Em estudo realizado por Raz & Shapiro (2002), dados obtidos por PET sugerem que a hipnose modula a atividade em estruturas cerebrais envolvidas no despertar e na atenção. A hipnose pode ser comparada a uma forma de placebo (Kirsch, 1994) de fato, tanto os efeitos placebo como hipnóticos  produzem respostas que são experienciadas como automáticas ou involuntárias, isso ocorre porque somos condicionados a pensar e a exprimir ideias através de palavras. A inibição do analisador cinestésico, somado à imobilidade, produz a inibição das áreas nervosas correspondentes à cinestesia, conduzindo o indivíduo às designadas fases hípnicas. A dor é memória de acordo com a International Association of the Study of Pain, ela é emocional e sensorial em sua experiência. Oportuno se torna mencionar, que estudos recentes em neurociência se verificou que durante o transe hipnótico, há um aumento da conectividade funcional entre o córtex somatossensorial primário e os córtices insular e pré-frontal. (fonte: Hipnose Clínica teoria pesquisa e prática – Editora LIDEL – 2013)

Hipnose é o uso da sugestão e da atenção focalizada, em um relacionamento terapêutico, para auxiliar o sujeito a modificar a percepção, emoção  e/ou  comportamento; isso ocorre pelo simples fato de irmos direto ao inconsciente e focalizando e amplificando as potencialidades do sujeito.

Pela atenção seletiva o sujeito decide focalizar sua experiência (estímulos) no conteúdo das palavras, na voz e nos gestos do hipnoterapeuta, enquanto se desliga dos outros estímulos.

Durante a hipnose, naturalmente aumenta a atividade ALFA nas regiões parietooccipitais ao ampliar o repouso psicossensorial, e aumenta a atividade BETA nas regiões cerebrais anteriores.

Nesse rumo, pesquisas mostram que atividade elétrica cerebral durante a hipnose dependem da tarefa que está sendo experenciada pelo sujeito. A imaginação é um fator importantíssimo durante a hipnose, isso porque na vida as pessoas usualmente imaginam o que desejam obter na vida, desde a compra de um apartamento, a admissão em um emprego, passar no exame vestibular e por assim em diante.

Uma imagem é a representação de um objeto na ausência da informação sensorial. É a cópia do que restou dentro de nós de uma percepção anterior.

A imaginação é uma forma de elaboração do pensamento que ordena, enlaça e coordena em múltiplas combinações os elementos preexistentes no patrimônio cognitivo pessoal, evocados pelas memorias para dar forma as coisas novas e às concepções originais. A imaginação pode ser reprodutora, e é a capacidade para evocar imagens, representações e ideias vivenciadas e registradas e submetê-las às mais variadas elaborações

A linguagem falada transmite o conteúdo semântico pelo conceito e imagem e a estimulação sonora da voz pelo timbre, velocidade, volume, entonação, ritmo indicado pelas pausas, que transmite a emoção que deve estar de acordo com o conteúdo.

A área de WERNICHE (no cérebro) recebe informação sensorial de todas as áreas interpretativas com visuais, auditivas, sensorial. É por isso que uma pessoa compreende as palavras ouvidas, lidas, sentidas pelo tato, ou mesmo as palavras pensadas.

Nesse sentido, há associação semântica no córtex motor primário na região frontal anterior, e ocorre codificação pré-motora na área motora suplementar. No modelo de WERNICHE, as percepções auditivas e visuais da linguagem são formadas em suas respectivas áreas sensoriais e de associação e convergem para área de WERNICHE, onde as palavras criadas pelo próprio sujeito são reconhecidas como linguagem falada ou escritas. Sem este reconhecimento, a compreensão da linguagem é perdida.

Portanto, uma vez reconhecida, a representação neural é retransmitida da área de WERNICHE para área de BROCA, onde é transformada de representação auditiva ou visual, em linguagem; falada ou escrita.

Os estudos com o PET sugerem que a área anterior do giro do ângulo parece ser mediadora da hipnose. Portanto, a hipnose permite ao sujeito pensar de novas maneiras e aceitar que outro modo seriam impossíveis. Pela manipulação da atenção podemos influenciar as percepções, os processos emocionais, os pensamentos e ações. A hipnose é o veículo pelo qual intervenções são implementadas de maneira eficaz e duradoura.

Podemos então considerar esse estado singular que ocorre na hipnose como em estado psicofísico, artificialmente induzido, semelhante ao sono fisiológico, que aumenta a sucetibilidade e a sugestibilidade do sujeito, desencadeando reações emocionais e parcial dissociação da personalidade.

Poderíamos aduzir que não se trata simplesmente de um estreitamento ou estado alterado de consciência, como era até pouco tempo considerado. Seria um estado particular de consciência, mantendo o sujeito com atenção concentrada no estímulo proveniente do hipnotizador ou nos estímulos que percebe do ambiente ou de seu corpo. Esses estímulos geram reações emocionais que facilitam o tratamento psicoterapêutico.

Nesse rumo, qualquer que seja a técnica em hipnoterapia em questões emocionais e comportamentais, o que se procede é uma psicoterapia sob hipnose em vez de uma psicoterapia pela hipnose.

O procedimento hipnótico é por essa razão, de difícil caracterização, chegando a ser denominado “quarto estado de consciência”, diferenciando-se dos três estados fisiologicamente conhecidos que são: a vígilia, o sono NREM e o sono REM.

É bastante atual a teoria de que as palavras do hipnotizador, processadas pelo nervo auditivo, alcançam a formação reticular ascendente na base do cérebro e se espalham por toda a massa cinzenta. Desta feita, os estímulos são repetitivos, quando chegam ao lobo frontal, concentram a atenção do sujeito em um único foco, inibindo o que se encontra ao seu redor.

Ocorre então, uma inibição com fragmentação do trabalho normal, unificado, do córtex cerebral. Sendo parcial, o sujeito permanece oscilando em um estado intermediário entre o sono e a vigília e desencadeia os fenômenos próprios da hipnose.

Portanto, confirma-se, assim a teoria de PavLov, para quem “o córtex é débil e de baixo tono e a excitação concêntrica se acompanha de uma indução negativa intensa que a desconecta e a isola de todas as demais influências. O estímulo enviado do cérebro concretiza, no córtex, o processo excitador no ponto correspondente (ponto vígel) e vai acompanhado de um processo de indução negativa que, graças à pouca resistência que encontra, progaga-se a toda a conticalidade”.

Nesse rumo, a hipnose age tanto no campo fisiológico. neurofisiológico como no emocional, o que possibilita ao sujeito obter excelentes resultados com o tratamento, pois em vigília seria muito difícil de atingir na área do encéfalo.

Portanto, inexorável a conclusão de que a hipnose reduz o tempo de tratamento, sendo considerado uma terapia breve.

Os estímulos psíquicos  e proprioceptores pertencem a mesma categoria. Está situação  produz um isolamento do estímulo hipnogênico na consciência excluindo-se todos os outros estímulos.

Este fenômeno é denominado de atenção seletivae é gerado  pela formação reticular ascendente, a qual também é responsável pelo estado de consciência desperta, assim como pelas atividades do hipotálamo e do sistema límbico.

As emoções e os seus estereótipos comportamentais têm como sede o sistema límbico, cuja sua expressão visceral é medida pelo hipotálamo. Existe interligação entre o sistema límbico, o hipotálamo e o neocortex por meio da formação reticular ascendente. As informações sensoriais pelas vias sensoriais ascendentes chegam às fibras colaterais e via formação reticular, que são percebidas pelo córtex consciente.

Por sua vez, o córtex pode interagir sobre esse conteúdo afetivo de natureza emocional e modular cognitivamente o comportamento.

A contribuição da neurofisiologia da hipnose para os estudos com relação ao câncer, por exemplo, onde esse procedimento se mostrou eficaz na modulação dos comportamentos álgicos e, consequentemente na redução, inibição ou modificação dos sintomas.

Pode-se então agir sobre a estimulação do sistema imunológico, cujo fenômeno associados à formação hipocampal do sistema límbico, que também é responsável pelo esquema corporal e pela regulação sistemática do sistema nervoso. Desta feita, cristalina a conclusão de que a hipnose permite acessar material situado abaixo do limiar da consciência.

O córtex pré-frontal é a sede do EGO e da personalidade e impede naturalmente que aforem lembranças desagradáveis ou traumatizantes, reprimindo-as. O acesso a esse material reprimido é obtido pela hipnose.

Quando o sujeito está sob a hipnose, permanece em harmonia e relaxado, restabelecendo o equilíbrio das funções psíquicas e somáticas, levando-o à melhora de seu estado de saúde.

O circuito de Papez é a via importante no contexto psicoterápico, especialmente na hipnoterapia, onde seu procedimento se manifesta como elemento de expressão emocional, desde que a emoção possa ser considerada um processo psicofísico que depende das estruturas neurofisiológicas.

As emoções e a memória partem da amígdala e do hipocampo, para os corpos mamilares pelo fornix, seguindo para o núcleo anterior do tálamo pelo fascículo mamilo-talâmico, e do tálamo para o girus cingulli, com irradiação para o neocortex, produzindo o aspecto emocional à experiência cognitiva, e dai novamente para o cíngulo, retorno à amígdala e ao hipocampo.

Sendo assim, modula-se a experiência  emocional. Este circuito tem relação com a experiência inconsciente e com a formação dos sonhos e a vida que organiza sistema límbico e hipotalâmico constitui-se em uma manifestação que se denomina de MENTE INCONSCIENTE. (Freud, se estive vivo ficaria feliz por terem localizado o inconsciente por ele descoberto sem os recursos de hoje)

Com se percebe, o inconsciente não é realidade virtual conceitual ou abstrata, mas é efetivamente palpável e real.

Com base no que foi dita, é bem possível considerar a hipnose como sendo um procedimento que, por meio do reflexo da atenção seletiva (via formação reticular ascendente), amortecer a atividade pré-frontal, tendo com facilitadores os estímulos psíquicos, sensórias, exteriores proprioceptivos, especialmente quando débeis, rítmicos, monótono e persistentes, e desde que não sejam irritáveis.

Isto proporciona a predominância do sistema límbico nos processos psíquicos e produziria maior sensibilidade do sujeito para a solução de conflitos emocionais.

O estado hipnótico produziria a autorregulação e a liberação do sistema límbico, especialmente nas situações em que ele é inibido pelos focos corticais hiperativos, que ocorrem pela exposição e situações estressantes, como as originadas de repressões, rituais, obsessões, compulsões, fixação de ideias, delírios e alucinações, bem como nas preocupações excessivas desencadeadoras de estresse.

Vale mencionar que o procedimento hipnótico produz a redução das atividades dos estímulos neocorticais,  o que reduz a reverberação destes estímulos hiperativos sobre o córtex e reequilibra o emocional e o somático. Isso  resulta em uma reação parassimpática que, em sentido contrário, age sobre o córtex, normalizando sua atividade.

A maioria dos transtornos de personalidades e algumas doenças tem origem no modo natural da vida contraria à natureza, desequilibrando a relação entre o córtex pré-frontal e o sistema límbico e alterando a coordenação do hipotálamo.

A hipnose age nesse estágio do desequilíbrio, pois o sujeito é mantido sob uma estimulação do hipnotizador, reduzindo as tensões e restabelecendo a atuação natural do sistema límbico e a coordenação hipotalâmica.

No homem, a correlação orgânica interior processa-se pelos hormônios, especialmente NEUROTRANSMISSORES, vias aferentes, diferentes e estruturas que constituem o sistema nervoso.

Contudo, essa comunicação “homem” se processa por meio do sistema nervoso cerebroespinal e autônomo (simpático – parassimpático, adrenérgio-colinérgio). Estudos mais recentes relaciona o sistema hipotálamo-hipófise-adrenal na modulação observada sob hipnose das funções endócrinas, metabólicas e imunológicas. De fato, confirma a modulação em subpopulações de células T de defesa e sua expressão na produção de interferon-gama e interleucina 2, além de cortisol, ACTH e betaendorfinas.

Tudo isso atuando pelo Sistema Nervoso (SN) o qual comanda as modificações gerais causadas por alterações específicas e desencadeadas pelos mais diferentes estímulos, bem como garantir qualquer ocorrência psicossomática.

Outros hormônios liberados durante o transe hipnótico ao qual irá depender da fraseologia que venha à provocar os estímulos adequados pelos sentidos; visual auditivos, tátil, olfativo ou gustativo. (noradrenalima, serotonina, norepinefrina, dopamina, acetilcolina)

Nesse raciocínio, a hipnose, estímulos sensoriais, especialmente os auditivos, feitos com técnica adequada, resultam na resposta esperada pela fibra nervosa e atravessam a sinapse onde ocorre a liberação do neurotransmissores  adequado à passagem do impulso nervoso produzido, que será mantido pela palavra ou fraseologia do hipnoterapeuta durante todo o processo.

Sumariando, a hipnose e a hipnoterapia são recursos naturais do psiquismo e muito benéfico ao sujeito que não há  até o momento contra indicações. HIPNOSE É NEUROCIÊNCIA E PSICOLOGIA APLICADA E VIVENCIADA (grifo escrito por Leandro Motta).

 

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